17 de maio de 2016



Dormir se ressentido por não ter cumprido o planejamento do dia, acordar jurando para si mesmo que fará diferente e deitar novamente com o sentimento de ter falhado é uma rotina comum para muita gente. Alguns o fazem de maneira pontual, adiando alguma atividade particularmente difícil ou penosa, mas muitos convivem por longas semanas e até meses evitando coisas que realmente precisam ser feitas.

Para além dos eventuais danos educacionais e profissionais, o ato de procrastinar tem o efeito de gerar frustração naquele que não cumpriu a promessa que fez para si mesmo, além da sensação de que não está aproveitando bem o seu tempo e deixando passar os seus projetos.

Há quem diga que a procrastinação é uma destruidora silenciosa de sonhos, pois, ao adiarmos indefinidamente nossos planos, corremos o risco de jamais conseguirmos colocá-los em prática. Perceber o tempo passando e nada sendo realizado pode ser um combustível para a depressão e ansiedade, além de estresse e insônia, causados pela prática constante de resolver as coisas na última hora.

A psicologia oferece algumas explicações para a procrastinação. A principal delas é que deixar para depois algo desagradável ou trabalhoso gera o prazer imediato de fazer coisas mais divertidas ou relaxantes, como sair com amigos, dormir, conversar ou assistir a um filme. Após o término dessas atividades, porém, tendemos a sentir culpa pelo tempo que deveria ter sido gasto em algo construtivo para nós e vergonha por não termos sido capazes de cumprir nossas responsabilidades.

Outra explicação, mais recente e menos difundida, é a de que muitos que se julgam procrastinadores, na verdade, seriam perfeccionistas que adiam o início de projetos com receio de falhar, como uma proteção ao seu medo de não corresponder à sua expectativa e a dos outros. Até porque, para as pessoas que exigem sempre o melhor de si, qualquer tarefa costuma ser muito desgastante.

Na sociedade contemporânea, hipercompetitiva e em busca da excelência de resultados, é importante não confundir o excesso de trabalho com uma vida mais produtiva. O mercado costuma medir os efeitos da procrastinação em valores, calculando quanto dinheiro deixa de ser produzido pelas horas gastas pelos funcionários nas redes sociais, no celular, nas conversas na hora do café, etc, mas é preciso alertar para o principal: quanta vida deixa de ser vivida por conta do adiamento constante das nossas obrigações.

Deixar os estudos para última hora, por exemplo, pode nos impedir de ingressar na universidade dos nossos sonhos ou no curso que mais nos satisfaria como profissionais. Adiar o trabalho para amanhã pode nos obrigar a desmarcar o jantar com uma pessoa querida ou um passeio com os filhos. Evitar a ida ao médico, o início de uma alimentação balanceada e a prática de exercícios físicos pode nos roubar alguns anos de saúde, de disposição e de vida.

A sensação de que poderíamos ter desenvolvido melhor nossas potencialidades e de que não fomos honestos com nós mesmos, batalhando pela realização dos nossos sonhos, tem o poder de causar muita frustração, pois faz sentido o dito popular de que temos a obrigação de nos transformarmos na pessoa que desejamos ser.

* Procurando apoio emocional? Ligue 141 ou acesso www.cvv.org.br


Luiza
CVV Belém/PA