23 de setembro de 2016






A busca de sentido na vida é um importante fator de prevenção para o suicídio. O alerta foi feito pelo psicólogo Carlos Henrique Aragão Neto, especialista em luto, no VI Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio, promovido pelo CVV, em Fortaleza (CE). O pesquisador aponta uma equação complexa, mas direta, entre a falta de sentido e o vazio existencial, que podem resultar no comportamento autodestrutivo. “Alguém com comportamento suicida fala do desespero, mas ninguém nasce desesperado. É o que a gente chama de afeto intolerável”, explica.

E o que é, de fato, sentido? Como encontrar essa e outras respostas para preencher a existência sobre dúvidas que fazem parte do ser humano desde a Antiguidade? A solução obedece a uma dimensão universal, que envolve o nascer, crescer e morrer, mas também particular, com questões de natureza social, profissional, espiritual e cultural muito específicas de ser para ser. “Às vezes se aposta muito em algo que não dá certo”, observa.

O tão falado vazio existencial é parte importante neste processo. No momento em que a pessoa não percebe motivações na vida, tenta buscar na morte a solução, em um sentimento ambivalente de tentar por fim à dor. O caminho para elaborar as dores e sofrimentos não passa por situações superficiais ou de otimismo imposto. “Muitos não sabem o que querem ou o que estão sentindo e a pessoa não sabe nomear o sentimento. Se a pessoa não sabe se é raiva ou culpa, por exemplo, tem dificuldades em trabalhar os sentimentos”, analisa.

Para diminuir frustrações é necessário aproximar o mundo real do idealizado. O mundo atual, marcado pelo imediatismo e pelo hiperconsumismo, está longe de favorecer uma melhor relação de vida. “As expectativas ficam muito além do que é possível, o que resulta na frustração”, explica. Uma outra questão comum é a necessidade de se ter garantias, de acreditar que as coisas são eternas. “São situações que causam dor e sofrimento. Queremos ter a ilusão de que controlamos algo”.

O psicólogo sugere a construção de uma existência densa, uma história de vida prazerosa de se contar. “É importante questionar-se: que histórias tenho para contar? O que gosto na minha história”. A necessidade de ser protagonista da própria história, assumir a autoria e a autoridade das próprias ações é destacada por Aragão Neto. Ele lembra o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, para quem a motivação básica do comportamento do indivíduo é a busca pelo sentido da vida. “É inerente ao ser humano”.

Ter disposição de se encarar de frente também é importante. Um dos caminhos, diz ele, é fazer as pazes com o passado e reconhecer que fracassos e derrotas fazem parte e podem gerar histórias positivas e fatores agradáveis. “Devemos sempre fazer um balanço existencial com honestidade e coragem”. Um outro ponto importante é saber reconhecer que a vida é um processo em constante construção, em permanente fazer-se e refazer-se a cada dia. “Tudo é processual e varia de acordo com as circunstâncias”, esclarece Aragão Neto.

E como ajudar alguém que passa por tamanha dor psicológica? O psicólogo explica que essa dor é o ingrediente básico do suicídio e, às vezes, colocar-se ao lado, sem julgamentos, ajuda na superação dos momentos mais difíceis. “Costumo perguntar: onde dói em você? Como posso te ajudar?”, conta. Essa escuta, chamada qualificada, auxilia na expressão das emoções e na busca de recursos internos para que a pessoa possa se ancorar mais na vida, e menos na morte.

Leila
CVV – Brasília (DF)

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