9 de junho de 2017



Em cada um de nós sempre existe uma palavra não dita, um sentimento reprimido, um desejo que quer ter vida, se realizar. Na vida cotidiana que pede urgências e determina prazos, onde o ter vale muito e o ser perde status, já não há mais muito espaço para o sentir.

Poucos são aqueles que param para ponderar sobre as próprias emoções e desejos, quanto mais dos outros. É pra se pensar, quem teria, nos dias de hoje, tempo e interesse de ouvir o desabafo do outro? Pra que se preocupar com o que o outro sente?

Muitos buscam forma de expressar o que sentem. Os poetas escrevem, os pintores traduzem suas emoções em traços e tons, os músicos dão som e voz aos seus sentimentos mais profundos. Mas e aqueles que não tem habilidades para às artes? Que são a esmagadora maioria de nós, resta a velha, boa e conhecida amizade e a possibilidade de desabafar.

Desabafar é fazer a palavra dar vazão a uma emoção presa dentro da gente. A dor pode ganhar voz nas frases, a alegria pode transbordar nos verbos ou nos substantivos, não importa a gramática nesta hora, o importante é colocar para fora.

O desejo, a frustração, a alegria, tudo muda quando dito, confessado e compartilhado. A emoção recebe forma em seu conteúdo e assim podemos compreender o que outra pessoa sente, já que não temos um termômetro ou algo assim que meça algo intangível como o sentir.

Poucos são aqueles que, a despeito de se considerarem amigos, emprestam seus ouvidos ao outro. Estamos num turbilhão tão grande que muitas vezes achamos que estamos ouvindo alguém, mas nem a nós mesmos ouvimos.

Na maioria das vezes, quem desabafa não quer conselho, norte, julgamento ou aplausos.  Só quer saber que outro humano se importa, só quer se sentir bem dividindo o que lhe oprime. Quer sentir que outra pessoa é capaz ouvir e talvez sentir a sua dor, que no mundo há outros que também sentem, sofrem e que compreendem os seus vazios, duvidas e incertezas. Quer sentir o alivio e o conforto de que não está só.

Mas se queremos ser ouvidos, porque não ouvimos os outros? Talvez não queiramos ver no outro a nossa dor espelhada. Talvez tenhamos medo de constatar a humanidade que ainda resta em nós, embora nos cerquemos de máquinas e números e metas concretas. Ou não aprendemos durante a vida a sentir, pois sentir ainda pode ser visto por alguns como fraqueza, como sentimentalismo, que não é valorizado em tempos de agilidade e praticidade.

Mas como ser amigo, como ouvir o outro, então? A amizade consiste na delicadeza do “estar disponível” para sentir o outro. Ela é o exercício da empatia. Aquele que tem dificuldade de ouvir, por mais bem-sucedido que seja no mundo dos fatos, é ainda inexperiente no terreno da emoção. E nem percebe que vai se fechando em si mesmo e se esquece do existir, do ser e de quem é realmente.

Adriana
CVV Araraquara (SP)

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