Desde a perda do ator Robin Williams, em agosto de 2014, que cometeu suicídio aos 63 anos, muitos atores e celebridade se comoveram com o tema e resolveram falar sobre o assunto.
Robin era um ator famoso e bem sucedido que lutava contra a depressão, a ansiedade e os primeiros estágios do mal de Parkinson, sobre o qual não estava preparado para falar publicamente, como afirmou sua esposa, Susan Schneider, em um comunicado à imprensa. "É nossa esperança que, com o trágico falecimento de Robin, outras pessoas achem força para procurar a ajuda e o apoio de que precisam para tratar seja quais forem as batalhas que estejam enfrentando, para que possam sentir menos medo. Robin dedicou muito tempo de sua vida a ajudar outras pessoas. Queria nos fazer rir para que nos sentíssemos menos assustados", acrescentou a viúva do ator.
Muitos se perguntam: como um mestre da comédia, que chegou a ser considerado o homem mais engraçado do planeta, foi capaz de tirar a própria vida? A resposta pode estar em um estudo feito pela Universidade Oxford, com 523 comediantes, publicado em janeiro deste ano, que mostrou que eles são mais depressivos e podem desenvolver quadros psicóticos com mais frequência do que a média da população. Metade deles mostrou ter potencial depressivo, além de tendência para a bipolaridade e mania de perseguição.
“Robin Williams tinha quatro fatores de risco para suicídio: a depressão, o alcoolismo, o Parkinson e o uso de drogas. Se ele estava deprimido, se é uma pessoa predisposta à depressão, o álcool é um depressor do sistema nervoso central, ele afunda mais ainda a pessoa na depressão”, diz a psiquiatra Analice Gigliotti.
Estima-se que atualmente entre 20% e 25% da população mundial tenha depressão, mas entre artistas, o problema é mais grave. O bom ator é aquele que mexe com todas as emoções do público. No palco, ele é quem está no comando. Quando a plateia vai embora, porém, muitas vezes ele não consegue lidar com as próprias angústias.
A pesquisa também mostrou que, embora os humoristas pareçam ser felizes e extrovertidos, na vida real, têm uma tendência maior a serem retraídos. É o caso de Fausto Fanti, comediante brasileiro que também tirou sua vida, em agosto de 2014. “Quando você é comediante, é natural que esperem de você uma graça sempre. Eu vejo isso. Às vezes, são certas emoções assim, picos de emoções que a gente sente, mas eu acho que, ao longo da profissão, a tendência é realmente saber dividir isso”, conta a atriz Heloísa Périssé.
“Eu tenho depressão, eu faço terapia, eu tenho déficit de atenção. São coisas que estão aí e que a gente não precisa ficar derrubado, nem com vergonha, nem guardar dentro da nossa cabeça dramaticamente. A gente tem que enfrentar mesmo. Na depressão, às vezes, o que atrapalha, ela te imobiliza, paralisa. Deixa você estagnado”, revela o ator Otávio Müller.
O humorista Chico Anysio, que morreu em 2012, conta sobre a luta que travou contra a depressão: “Se não fossem os remédios que a psiquiatria dá, se não fosse isso, eu não teria conseguido fazer 20% do que eu fiz.”, contou à época.
Em Los Angeles, um clube organiza, toda semana, uma sessão de terapia para todos os artistas que se apresentam na casa. O dono diz que resolveu fazer isso depois de três comediantes cometerem suicídio.
“Tem a figura clássica do palhaço triste, que é o homem que faz os outros rirem e, quando tira a maquiagem, ele está chorando, na verdade, ele não é feliz assim. Isso tem estudos mostrando que é verdade, que o perfil dos comediantes tem uma maior tendência a ter mais introversão, angústia, ansiedade. E a comédia, às vezes, é até uma maneira de lidar com isso. O comediante é o sujeito que nos traz alegria, mas, quando ele tá sozinho, tem aquele sofrimento. E ele usa o humor até para lidar com isso”, avalia o psiquiatra Daniel Martins de Barros.
Todos nós sentimos, sofremos e experimentamos algo em tudo o que vivemos. Famosos ou não, nossas emoções e sentimentos estão presentes e pulsantes em nosso dia a dia. Como lidar com eles é o nosso desafio diário.
Adriana
CVV Araraquara - SP