Datas comemorativas têm um sentido
específico. Vão muito além da tentativa comercial de transformar sentimentos em
coisas. Servem para nos lembrar momentos de resistência, conquistas e relações
afetivas. Com o Dia das Mães, não poderia ser diferente. E, nesta data, sempre
lembro de uma amiga em especial. A mãe dela se suicidou quando ela tinha pouco
mais de 4 anos. O trauma é profundo e muitas vezes difícil de ser superado.
Amor de mãe, tradicionalmente na nossa cultura, é aquele sem limites, que tudo
ultrapassa. Mas, e quando não consegue ultrapassar o desejo avassalador da
morte?
Autora de um livro sobre o tema (“E
Agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio”), a psicóloga
Karen Scavacini, mestre em saúde pública e especialista em prevenção ao
suicídio, afirma que uma das questões mais difíceis é mostrar aos filhos que
suicídio não tem nada a ver com amor ou com a falta dele. Mas com sofrimento. Em
entrevista ao Portal Saúde IG, ela observa que a
questão, muitas vezes, precisa ser trabalhada por anos, em um longo processo,
durante o qual aparecem questionamentos como: “Se ela me amasse não ia fazer
isso, né?’”.
Neste processo, muitas vezes aparece o
sentimento de culpa e a psicóloga faz questão de ressaltar que não existe culpa
da mãe e muito menos da criança. Ainda assim, este foi o sentimento marcante ao
longo de boa parte da vida da atriz Jane Fonda. A mãe dela, com transtorno bipolar,
se matou quando a menina tinha 12 anos. Hoje, aos 78, ela reconheceu, em
entrevista publicada em O Globo, que foi necessário fazer uma escolha: entender
que cura para o sofrimento da mãe não dependia dela. Caso contrário, passaria o
resto da vida com culpa.
Karen Scavacini comenta que a criança
que perde alguém por suicídio vive o luto duas vezes: ao saber da morte e,
depois, ao saber a causa da morte. Ela defende que, nestes casos, o ideal é
falar com a criança sobre o que aconteceu, de forma sincera. Na avaliação da
autora, não falar sobre o tema só contribui para reforçar sentimentos de
solidão, desamparo, vergonha e desconfiança. “Quanto mais a família não fala do
assunto, mais faz com que o tabu aumente”, afirma. Uma atitude comum é a
criança brincar e representar com bonecos o momento da morte. “O adulto pode
ficar horrorizado com isso, mas é preciso saber que esta é uma forma de a
criança lidar com isso, poder representar, refletir e passar por isso”. A
psicóloga alerta que trabalhar o luto da criança é um importante fator de
prevenção de desenvolvimento de transtornos mentais. “O luto do sobrevivente [as pessoas diretamente atingidas pelo suicídio de um familiar ou amigo] é muito mais
traumático, duradouro e intenso”, conclui.
Quer saber mais sobre sobre o tema? Confira o texto Você já conhece os grupos de apoio aos sobreviventes do suicídio?, publicado aqui no Blog do CVV.
Quer saber mais sobre sobre o tema? Confira o texto Você já conhece os grupos de apoio aos sobreviventes do suicídio?, publicado aqui no Blog do CVV.
Leila
CVV Brasília/DF
CVV Brasília/DF