6 de maio de 2016

Datas comemorativas têm um sentido específico. Vão muito além da tentativa comercial de transformar sentimentos em coisas. Servem para nos lembrar momentos de resistência, conquistas e relações afetivas. Com o Dia das Mães, não poderia ser diferente. E, nesta data, sempre lembro de uma amiga em especial. A mãe dela se suicidou quando ela tinha pouco mais de 4 anos. O trauma é profundo e muitas vezes difícil de ser superado. Amor de mãe, tradicionalmente na nossa cultura, é aquele sem limites, que tudo ultrapassa. Mas, e quando não consegue ultrapassar o desejo avassalador da morte?

Autora de um livro sobre o tema (“E Agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio”), a psicóloga Karen Scavacini, mestre em saúde pública e especialista em prevenção ao suicídio, afirma que uma das questões mais difíceis é mostrar aos filhos que suicídio não tem nada a ver com amor ou com a falta dele. Mas com sofrimento. Em entrevista ao Portal Saúde IG, ela observa que a questão, muitas vezes, precisa ser trabalhada por anos, em um longo processo, durante o qual aparecem questionamentos como: “Se ela me amasse não ia fazer isso, né?’”.

Neste processo, muitas vezes aparece o sentimento de culpa e a psicóloga faz questão de ressaltar que não existe culpa da mãe e muito menos da criança. Ainda assim, este foi o sentimento marcante ao longo de boa parte da vida da atriz Jane Fonda. A mãe dela, com transtorno bipolar, se matou quando a menina tinha 12 anos. Hoje, aos 78, ela reconheceu, em entrevista publicada em O Globo, que foi necessário fazer uma escolha: entender que cura para o sofrimento da mãe não dependia dela. Caso contrário, passaria o resto da vida com culpa.

Karen Scavacini comenta que a criança que perde alguém por suicídio vive o luto duas vezes: ao saber da morte e, depois, ao saber a causa da morte. Ela defende que, nestes casos, o ideal é falar com a criança sobre o que aconteceu, de forma sincera. Na avaliação da autora, não falar sobre o tema só contribui para reforçar sentimentos de solidão, desamparo, vergonha e desconfiança. “Quanto mais a família não fala do assunto, mais faz com que o tabu aumente”, afirma. Uma atitude comum é a criança brincar e representar com bonecos o momento da morte. “O adulto pode ficar horrorizado com isso, mas é preciso saber que esta é uma forma de a criança lidar com isso, poder representar, refletir e passar por isso”. A psicóloga alerta que trabalhar o luto da criança é um importante fator de prevenção de desenvolvimento de transtornos mentais.  “O luto do sobrevivente [as pessoas diretamente atingidas pelo suicídio de um familiar ou amigo] é muito mais traumático, duradouro e intenso”, conclui.

Quer saber mais sobre sobre o tema? Confira o texto Você já conhece os grupos de apoio aos sobreviventes do suicídio?, publicado aqui no Blog do CVV.

Leila
CVV Brasília/DF