15 de julho de 2016


Frederico Mattos, psicólogo e colunista dos sites papodehomem.com.br e sobreavida.com.br, abordou um assunto ainda pouco explorado: a depressão masculina, que se configura com elementos muito particulares, reservados aos homens.
Sabe-se que a depressão, quando não tem causas essencialmente orgânicas é resultante de uma combinação de fatores como histórico pessoal, traços de personalidade, cultura e elementos externos que disparam um processo silencioso de corrosão da capacidade de sentir prazer na vida, equilíbrio da negatividade ou de resiliência frente aos impasses.
A nossa cultura cria imagens simbólicas do que é sucesso ou fracasso baseadas em gênero, religião, nível de instrução entre outras características que são supervalorizadas.
Na queda de braço entre a pressão externa e a capacidade interna de corresponder à essas expectativas, o homem parece se debater com demônios diferentes dos das mulheres. Se para elas pesa o fato de estar solteira, não ter filhos ou serem vistas com descaso quando se mostram livres, o mesmo não ocorre com os homens, que sofrem por outros tipos de pressões.
Frederico descreve que dificilmente um homem vai procurar ajuda porque está deprimido, normalmente a queixa dele será que esta cansado; que tem dificuldades no trabalho, que esta irritado e que tem perdido o controle com facilidade, que sua parceira está reclamando do jeito dele, ou ainda que a família dele acha que ele tem um problema, mas eles estão “viajando”.
Um dos primeiros sintomas da depressão masculina é não ter a capacidade de reconhecê-la por conta própria. Normalmente, a pessoa em depressão desconfia que perdeu o fôlego para viver, que está desproporcionalmente triste.
O ponto-cego da depressão masculina é o de não poder admitir que tem uma fraqueza, muito menos emocional. Ele pode dizer que está chapado ou fora de si, mas nunca abatido ou emocionalmente fragilizado. Tem dificuldade de identificar e admitir o que sente
O vocabulário emocional da maioria dos homens costuma se restringir, com belas exceções, a sensações corporais como “cansado”, com um “troço no peito”, tesão e, no máximo, uma emoção vista como viril que é a raiva descreve o autor.
Angústia, medo, tristeza, desesperança, insatisfação, desencantamento, desapontamento, decepção, culpa, inveja, estão fora do campo de autoanálise de grande parte dos homens. Ele sente as dores emocionais no corpo, de forma física.
Ele vai ficar curvado, calado, recluso e perder produtividade, mas dificilmente vai confessar uma fragilidade.
Você notará a depressão masculina quando o rendimento profissional dele cair, quando começar a agir de um modo estranho no seu relacionamento familiar ou amoroso, quando
começar a fazer mais uso de álcool ou outras substâncias químicas e até quando ele ficar fisicamente doente.
Outro ponto crítico, segundo Frederico, é que quando as pessoas percebem o quadro, ele já está instalado nas entranhas da mente desse homem. Não é incomum que as pessoas descubram quando ele já cometeu suicídio que ele tinha um quadro depressivo.
Essa atitude para o homem é vista como uma tentativa de poupar os outros de carregá-lo como um peso na vida delas. Só a imagem de ver familiares e amigos se movimentando para cuidarem dele já causaria calafrios e, para evitar esse “transtorno” na vida dos outros, ele prefere se sacrificar.
Pensando nesses aspectos, é muito mais fácil notar o motivo pelo qual homens morrem tão precocemente. Muitos que se deixam entregar por um diabetes mal cuidado, um problema cardíaco, uma compulsão por álcool ou tabaco, podem ter como pano de fundo uma auto-destrutividade não detectada como depressão.
A solidão masculina é um fator que contribui para a construção de uma jaula social que cria uma barreira invisível entre os amigos homens. A grande parte deles não se sentem à vontade para abrir seus medos, dores e desilusões pessoais entre si.
As revistas e programas de TV voltados ao público masculino tendem a reforçar os estereótipos. Não se abrem espaços para discussões maduras e sérias sobre os dramas masculinos.
O resultado disto é uma apatia existencial que se manifesta por meio do famoso “o que vier é lucro”. Uma postura destituída de valores e questionamentos. Ganhar dinheiro, transar, tomar umas com uns amigos e já está bom demais.
Os homens constroem em suas vidas várias grades emocionais e obstáculos com as quais convivem.
Quando levamos essas travas em consideração, fica mais compreensível porque muitos homens gritam ou agridem quando se sentem minimamente acuados em suas posições pessoais: eles próprios são seus mais fiéis e implacáveis críticos.
Quando alguém lembra um homem de que ele age como um egoísta, inconsequente, arrogante, machista, inexperiente ou imaturo, sua primeira reação costuma ser gritar para manter um mínimo de dignidade pública, ainda que, lá no fundo, ele próprio desconfie das suas convicções.
Precisamos estar atentos e olhar com muita delicadeza para um homem que se mostra ferozmente convicto de quase tudo segundo o psicólogo, pois quanto maior a blindagem, mais frágil o conteúdo do cofre.
Se o homem não se sente ativo e realizador, com a mão na massa ou desembaraçando algum problema, ele percebe a si mesmo como sendo menos homem. Os filmes de aventura e ação estão recheados desses ícones de homens que resolvem a coisa toda, mesmo que seja na porrada.
Em maior ou menor grau, os homens almejam atender a essas expectativas.
A depressão masculina é um tipo de lembrete da própria humanidade do homem que é chacoalhado em sua tentativa de se defender dos seus próprios medos.
Se um homem pudesse dar atenção à voz silenciosa que vem de seu íntimo, ouviria algo como: “Está tudo bem se você não for um campeão. Quantos momentos felizes você já não viveu fora do pódio?”
Na opinião do profissional, a “cura” da depressão masculina está mais baseada numa mudança individual e coletiva que se abre para a construção de homens múltiplos possíveis do que numa corrida do ouro para provar quem é o mais poderoso.
Devemos ficar atentos e tentar ajudar aos homens respeitando suas dificuldades e necessidades de seres humanos criando um clima favorável para que eles possam abrir seus corações.
Eixo Comunicação CVV

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