9 de dezembro de 2016




Em 2015, 863 pessoas morreram por dengue no Brasil. No mesmo período, 12 mil pessoas se mataram. O contraste entre importantes questões de saúde pública foi um dos temas destacados durante debate sobre políticas públicas de prevenção do suicídio realizado nesta semana na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, com a presença do CVV. “Temos políticas públicas para evitar mortes por dengue, mas não para evitar 12 mil mortes por suicídio. A gente precisa mudar esse paradigma. Não é ser contra as políticas em relação à dengue, mas a favor das mesmas políticas em relação ao suicídio. Trinta e duas pessoas morrem por dia”, alertou o psiquiatra Fábio Gomes de Matos, professor da Universidade do Ceará, um dos participantes do debate.

E os números, que assustam, estão longe de ser um retrato fiel da realidade. A subnotificação recorrente foi destacada pelo presidente do Centro de Valorização da Vida, Robert Paris. Ele lembrou que muitas vezes o estigma, o tabu, a vergonha e o medo impedem que as pessoas falem abertamente sobre o assunto. E por que as pessoas se matam? Porque não suportam o sofrimento. “As pessoas querem matar a dor que sentem. O suicídio não é uma alternativa, é uma falta de alternativa. Elas não conseguem ver como se livrar do sofrimento”, comenta ele. É quando a dor psíquica chega a um ponto no qual, naquele momento, não se vê saída.

Mas, antes de chegar a esse ponto, é preciso que o Estado atue e cumpra o seu papel fundamental de garantir o direito à saúde. Um dos parlamentares presentes ao debate, o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), sugeriu a criação do um grupo de trabalho para discutir a capacitação de agentes comunitários de saúde para atuar especificamente na prevenção de suicídios.

Para Fábio Matos, é fundamental também mudar a legislação e alterar questões aparentemente simples, como a classificação do que é ou não acidente. Casos de suicídio podem ser subnotificados desta forma. “O acidente só pode ser definido a posteriori, após a exclusão de que foi suicídio”, observa. Ele ainda defende barreiras contra o suicídio em obras, proibição da comercialização de munições; e adoção de um sistema integrado do SUS, com prontuários digitalizados, para facilitar o acesso ao histórico do paciente e, por outro lado, impedir a obtenção indiscriminada de medicamentos.  

Uma das principais conclusões da audiência é que o combate a uma chamada "epidemia" de suicidios só avançará com coragem para tratar do assunto com a importância que o tema demanda e com união de esforços entre poder público, profissionais de saúde e sociedade.

Leila
CVV Brasília

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