15 de março de 2016




Dentro de cada pessoa existe uma criança que busca ser aceita e querida pelas outras. O desejo de se sentir acolhido vem desde muito cedo e começa pela necessidade quase vital de se sentir amado pelos pais, que representam para a criança a proteção, a alimentação, o abrigo. Toda a segurança, enfim. O entendimento dela é que, sem o amor dos pais, estará totalmente desamparada.

Se o que a criança mais teme é perder o amor dos pais, um dos maiores erros que eles podem cometer – e frequentemente cometem, não por maldade, mas por ser a forma que acreditam eficaz para a educação dos pequenos - é passar a mensagem, explícita ou implícita, de que o amor deles é condicionado ao comportamento dela. Insinuar que deixará de gostar de um filho que não obedece ou que amará mais aquele que faça tudo “certo” (na visão dos pais) deixa as crianças em um constante estado de ansiedade e vigilância, que pode se estender para a vida inteira e se materializar, na fase adulta, na necessidade de agradar a todos, de jamais decepcionar (o que pode explicar uma das origens do perfeccionismo), de evitar conflitos.

Ao crescer achando que perderá o afeto dos outros, caso cometa um erro ou desaponte uma expectativa alheia, a pessoa tende a se tornar insegura, não deixando florescer sua verdadeira personalidade e sempre condicionando seus atos ao que se espera dela. Sufocar os próprios sentimentos e desejos, porém, é desgastante e exige grande esforço emocional. Ainda que resolva agir de acordo com sua vontade, o faz com bastante sofrimento e conflitos internos, sentindo constantemente uma culpa enorme por frustrar aqueles que ama. 

É preciso ter em mente que as experiências na infância são determinantes para o desenvolvimento emocional, especialmente porque, na mente de uma criança, tudo toma proporções maiores, pois ela não tem recursos psicológicos para compreender que certos comportamentos dos pais são apenas uma limitação deles, que, nessa fase, são vistos como seres infalíveis.

Para uma educação emocional adequada, o amor não pode ser uma moeda de troca, uma chantagem. As crianças - e as pessoas em geral – precisam se sentir merecedoras de amor por serem quem são e não como recompensa pelas suas conquistas. Ou seja, devem entender que é o amor que as torna especiais, ao invés de acreditarem que precisam ser especiais para serem amadas. Só existe segurança emocional se for possível esperar que aqueles que dizem amar irão permanecer ao lado, mesmo que não concordem com os atos.

Aquele que forma a sua personalidade em um ambiente em que não teme perder o afeto da família (o que não significa, em absoluto, não ser educado e repreendido diante de maus comportamentos), costuma desenvolver melhor suas potencialidades, dar mais vazão aos seus sentimentos, aceitar mais facilmente suas características e limitações. Ou seja, costuma ter mais amor próprio e segurança para se mostrar e viver plenamente, ciente de que é merecedor de afeto, independente de suas falhas.

Crianças que se desenvolvem sentindo que são amadas se tornam adultos que sabem se relacionar com os outros de uma forma mais saudável. As pessoas seguras de seu valor entendem que não é seu trabalho fazer com que os outros gostem delas, costumando não se importar muito com aqueles em quem não despertam simpatia. Procuram se aproximar das pessoas que o valorizam como são e que lhe permitem se expressar livremente, sem medo de julgamentos e rupturas.

A aceitação incondicional das pessoas é um dos pilares do CVV, que busca oferecer um ambiente seguro para que todos possam mostrar seus verdadeiros sentimentos e pensamentos, sem serem criticados ou julgados pelo voluntário. O anonimato e o sigilo das conversas possibilitam um momento sem máscaras, um alívio nas obrigações autoimpostas de cumprir um papel, para não demonstrar vulnerabilidade, dando espaço àquela criança que precisa de compreensão e acolhimento.


Luiza
CVV Belém - PA