As Olimpíadas do Rio nos fazem refletir sobre os diferentes ciclos da vida. A tragédia pessoal, a frustração, o medo e a certeza de ontem, de que nada mais podia dar certo, cedem espaço para a glória, a superação, o esforço pessoal recompensado e os olhares de admiração de todo um planeta. Que o diga a judoca Rafaela Silva, a menina de ouro do Brasil. Em Londres, em 2012, após ser punida nas semifinais no confronto com a húngara Hedvig Karakas, ela enfrentou todo tipo de ofensa, inclusive de cunho racista. Entrou em depressão. Pensou em largar tudo. Agora, já faz parte da história do esporte brasileiro. A carioca de 24 anos que cresceu na Cidade de Deus, uma das comunidades com indicadores sociais mais críticos do Rio de Janeiro, foi a primeira a subir ao ponto mais alto do pódio pelo país sede da competição.
Outro que busca enfrentar os fantasmas do passado é Diego Hypolito, classificado para a etapa final de solo na ginástica artística masculina. Após literalmente cair nas provas das Olimpíadas de Pequim e de Londres, ele viu a vida mudar de ponta cabeça. Foi demitido do clube, ficou sem ginásio para treinar e viveu o que considera o pior momento da vida. Perdeu dez quilos em uma fase de depressão profunda, na qual foi necessária a hospitalização por total falta de energia para reagir. Tudo gerava ansiedade e desespero. Com muita dificuldade, pouco a pouco voltou ao esporte e às disputas. Agora, diz estar de alma lavada por ter se permitido uma nova chance.
O alto nível de exigência entre os atletas talvez possa ajudar a compreender uma grande incidência de problemas emocionais entre eles. O perfeccionismo é levado ao extremo. Não basta estar entre os melhores, é preciso ser o melhor. Além da pressão interna, eles ainda têm que lidar com a expectativa da torcida e a responsabilidade de representar seu país. A ansiedade que antecede a competição pode dar lugar a uma decepção enorme, pois um erro pode comprometer o trabalho e os sonhos de uma vida inteira.
Quando anunciou que iria se aposentar da natação, após as Olimpíadas de Londres, o já lendário norte-americano Michael Phelps disse, com toda franqueza e sem rodeios, que estava farto das cobranças e limites impostos aos atletas. A falta de um projeto, porém, levou o maior atleta olímpico de todos os tempos a uma clínica de reabilitação comportamental para superar a depressão e pensamentos suicidas (veja entrevista aqui). Para a vida voltar a ter um sentido, pediu ao técnico que o preparasse para os Jogos do Rio. E o resultado está aí: entra novamente para a história como o primeiro nadador a conquistar medalhas em quatro diferentes edições dos jogos.
A lição que fica é que somos iguais na nossa dor, na nossa humanidade. Todos sofremos em ambientes extremamente exigentes e competitivos. Todos temos limites e medos, que podem se colocar como obstáculos para nossos objetivos. É importante se reconciliar com nosso passado, com nossos traumas, para conhecermos nossa força, nossas armas, nossas virtudes e, assim, seguirmos em frente.
Leila e Luiza
CVV – Brasília e CVV - Belém
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