14 de novembro de 2016


Como interpretar a atitude de várias pessoas que já se inscreveram para viajar ao planeta Marte, em 2022, mesmo sendo sabedores que será uma viagem sem volta? O poeta José Mário Rodrigues, autor do artigo intitulado Viagem às Estrelas, publicado no Jornal do Commercio (PE), em 1º de setembro de 2013, afirmou: "É gente demais querendo partir para o desconhecido, onde o tudo e o nada se encontram".

Diz ainda Rodrigues: "...é possível que estejam acreditando, que outros mundos e a viagem sem retorno serão a saída. Os já inscritos aniquilaram o medo de suas vidas e estão possuídos de libertação". Contudo, cada um dos inscritos terá que se explicar pela sua voluntária decisão, uma exigência da empresa holandesa Mars One Foundation, promotora dessa odisseia.

Será que existe uma explicação mais evidente do que a busca do suicídio, já que a viagem não oferecerá retorno? Um suicídio diferente, glamouroso, chamativo, mas um suicídio e como tal merece a atenção das autoridades competentes e das instituições que se dedicam à prevenção desse tipo de morte.

Escreve José Mário Rodrigues que talvez nesta viagem sem retorno esteja a descoberta do caminho para a saída. E quais saídas poderão ser citadas? Fuga da dor de um casamento traumático? De uma doença incurável? De frustrações de toda ordem, tais como: perda de status, de um ente querido, derrocada financeira, distúrbios mentais crônicos? Dependência de drogas lícitas e ilícitas?

Tudo é possível e passível de interpretação. O que não se pode crer é que os candidatos estejam pensando numa expectativa de fazer uma viagem de recreio, de pioneirismo, de carregar sonhos para descobertas fascinantes e inesquecíveis.

A impossibilidade do retorno não se trata de uma expectativa é uma confirmação incontestável. Portanto, essa atitude conduz a certeza de que quem opta por esta viagem está escolhendo um voo para a morte antecipada, pois terão que sobreviver no novo planeta e tentar se adaptar a ele.
Torcemos para que no ano 2022 a tecnologia já ofereça condições a estes tripulantes de regressarem à Terra com a certeza de que viver vale a pena. Caso contrário, que ajudados pelas instituições ou pela superação dos seus problemas, repensem a inscrição da viagem, embora se saiba que a cada pessoa cabe construir o seu próprio destino.

Bartyra | Recife - PE


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