Certa vez, ainda criança, ouvi o alerta: “Não tenha medo, apenas cautela. O medo paralisa”. A frase nunca me saiu da cabeça e volta agora com uma amiga que relata a dificuldade de entrar no elevador. Mãos geladas, suor frio, batimentos cardíacos alterados, uma angústia sem tamanho frente a uma possibilidade de ameaça, um perigo totalmente ignorado.
Essa função útil é destacada pelo médico Antônio Egídio Nardi, do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Em entrevista à repórter Daniela Bittencourt, ele explica que o medo ajuda. "Quando se tem medo de algo que pode nos ferir, tomamos medidas que nos protegem”, destaca. É o que ocorre quando se olha para baixo do topo de um prédio de 30 andares, por exemplo, e imediatamente se joga o corpo para trás ou quando se espera o sinal fechar para se atravessar a rua. É o medo garantindo limites.
O problema é quando começa a atrapalhar o cotidiano, dificultando as atividades do dia a dia. Nessas ocasiões, o sentimento pode ser tão irracional que sequer se sabe como tudo começou, apenas se reconhece o pavor frente à necessidade de convivência com a ameaça. "Os traumas podem levar à fobia, mas muitas fobias aparecem sem que o indivíduo as associe a um acontecimento específico", complementa Egídio, na mesma entrevista.
É aí que incomoda e aprisiona. Às vezes, uma reação exagerada a algo que existe apenas em nossa cabeça. Um pensamento que gera outro, e outro, e daí é um passo para se ter uma história, que pode ter pouca ou nenhuma conexão com a realidade. Uma resposta inusitada e que compromete a qualidade de vida para uma situação que a maioria das pessoas considera comum.
O líder espiritual Sri Prem Baba explica em seu blog que o medo é um sentimento impeditivo por natureza e que existe muito mais do que se pensa por trás dele. "Talvez seja um dos sintomas mais evidentes de desencaixe interno, de insatisfação com aspectos da vida, sensações que só são sentidas porque não se está onde se deve estar". Esse deslocamento, na visão dele, provocaria sofrimento e faria a pessoa ficar andando em círculos, sem sair do lugar, nos desdobramentos infinitos do medo. "Como o medo de sentir medo ou o medo de sentir medo do medo".
E como enfrentar toda essa situação que em alguns casos pode ser patológica? Entre as sugestões apresentadas por Prem Baba está o autoconhecimento, o observar-se. Entender que nem tudo o que a gente acredita é verdade. "Geralmente o medo não tem a ver com a realidade”, conclui ele.
Leila
CVV Brasília
*Precisando conversar, entre em contato com nossos voluntários e veja as formas de atendimento disponíveis em www.cvv.org.br.
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