8 de abril de 2016



Antes mesmo que você chegue ao final deste primeiro parágrafo, pelo menos uma nova tentativa de suicídio já terá ocorrido no mundo. Qual o motivo que impulsiona a autodestruição, se todo ser nasce programado para a vida? A provocação foi feita por Tania Paris, do Amigos do Zippy, ao destacar a importância da educação emocional ainda na infância. Presidente da unidade brasileira da Associação pela Saúde Emocional das Crianças, ela destacou que esse aprendizado é tão ou mais importante que o intelectual e pode garantir resultados preciosos no futuro. Assim como se ensina às crianças a escovar os dentes e, ao longo da vida, elas repetem a atividade sem questionar, é possível, sim, aprender o que fazer quando não se está bem.

O Amigos do Zippy chegou ao Brasil, via Centro de Valorização da Vida - CVV, em 2004. A iniciativa foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar coordenada pelo Befrienders Worldwide e hoje está presente em 25 países, como Inglaterra, Índia, China e Estados Unidos. O programa é voltado para crianças de 6 e 7 anos e aplicado em estudantes do primeiro e do segundo ano do ensino fundamental. A proposta é ensiná-las a lidar com as dificuldades do dia a dia, identificar sentimentos e conversar sobre eles, dentro do princípio de que a saúde envolve bem estar físico, mental e social.

Por 24 semanas, diversas situações são apresentadas de forma a provocar a discussão e abrir espaço para quem quiser falar sobre si. Tania observa que lidar com o sofrimento do outro é sempre difícil e, muitas vezes, o caminho adotado é o da negação. “A criança cai e o adulto, ao pegá-la no colo, diz: ‘não doeu’. A criança continua a chorar porque não foi compreendida. É a deseducação emocional”, avalia. O fator de prevenção é sempre falar o que se está sentindo.

A tônica é fazer com que a criança perceba o que sente e encontre alternativas para se sentir melhor, lidando de forma mais eficiente com as dificuldades do dia a dia. “Uma criança agressiva às vezes apenas tem um repertório insuficiente para lidar com aquela situação”, afirma Tania. Frente a uma situação limite, o instinto é, quase sempre, de ataque ou fuga. A proposta, então, é criar o chamado ciclo saudável, que envolve, nessa exata ordem, sentir, pensar e agir. A aposta é na comunicação positiva e na identificação de formas de lidar com emoções desagradáveis. O questionamento “O que posso fazer para me sentir melhor” é repetido durante as aulas quase que como um mantra. O objetivo é que a pessoa não só desenvolva estratégias para se sentir bem, mas também não prejudique a si e aos outros.


Os módulos do programa

Sentimentos: As crianças começam analisando sentimentos e praticam dizer como se sentem em diferentes situações. A proposta é exercitar a empatia, reconhecer o que sentimos, perceber os sentimentos do outro.

Comunicação: Dizer o que queremos dizer, ouvir (significa prestar atenção) , buscar quem pode ajudar. Crianças caladas geralmente “se abrem” nessas sessões e aprendem a se expressar de modo mais livre.

Relacionamento: Foco nas amizades. Como fazer e conservar amigos, como lidar com a solidão e a rejeição. Exercitam pedir desculpas e fazer as pazes.

Resolução de conflitos: Foco nas ameaças e nas possíveis soluções. Como posso ajudar um amigo?, Ninguém tem direito de intimidar e ameaçar. (Pare: a raiva é contagiosa!)

Mudanças e perdas: Lidar com mudanças grandes e pequenas. A maior de todas é quando alguém morre. Coisas ruins acontecem mesmo quando a gente não quer; mudanças fazem parte da vida; todas as mudanças trazem perdas e ganhos; compreender o sofrimento; respeitar o tempo do outro.

Nós sabemos lidar com as dificuldades: O módulo final reforça tudo o que as crianças aprenderam: descobrir meios diferentes de enfrentar situações difíceis, ajudar os outros e de se adaptar a novas situações. A sessão final é uma comemoração e cada criança recebe uma coroa e um certificado.


Quem é Zippy?

Zippy é um dos principais personagens das histórias contadas pelos professores.

A Partnership for Children é detentora dos direitos autorais do programa Amigos do Zippy e, no Brasil, a representante do programa é a Associação pela Saúde Emocional das Crianças.

Leila
Brasília - DF