20 de setembro de 2016



Quarenta segundos. Esse é o intervalo de tempo para que uma nova pessoa cometa suicídio no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a organização, o número pode chegar a 800 mil vidas perdidas, a segunda maior causa de morte de jovens de 15 a 29 anos. Um dado tão alarmante e preocupante, mas que é não é do conhecimento de grande parte da população.

E por que os números de suicídio ainda são ignorados por grande parte das pessoas? A resposta é simples: porque a imprensa raramente noticia algo relacionado a esse tipo de morte. As justificativas dos manuais de redação, das normas internas de grandes emissoras é clara: muitos dizem que noticiar o suicídio pode induzir o telespectador, ou o leitor, a fazer o mesmo.

Mas, será que realmente essa justificativa é plausível? Causado por doenças como a depressão e a esquizofrenia, a grande maioria dos casos de suicídio hoje poderiam ser evitados, se as famílias, amigos e pessoas próximas às vítimas soubessem identificar os sinais claros de quem está pensando em tirar a própria vida. Se cada mãe que perdeu seu filho dessa forma, se cada filho que viu seu pai ir embora por uma morte provocada soubesse da tendência de seu ente querido em se matar, certamente mais poderia ser feito, um apoio poderia ser prestado e uma vida preservada.

Se os estudantes de jornalismo ouvem, logo nos primeiros dias de curso, que a grande função da imprensa é de abrir os olhos da sociedade para algo que não está claro, ou mesmo mostrar aquilo que grande parte das pessoas não vê, por que a imprensa não pode também alertar para esse tipo doloroso de morte? Por que não investir em reportagens que mostrem, de uma maneira sutil e clara, o quanto precisamos falar abertamente de suicídio e o quanto esse tema não pode mais ser tabu entre as famílias?

É lógico que alguns cuidados devem ser tomados. Evitar abordagem sensacionalista, descrever métodos, falar do local no qual o suicídio ocorreu - para não levar à “popularização” desses espaços - são algumas das dicas sugeridas no manual da Associação Brasileira de Psiquiatria.  Nossa imprensa tem que tomar cuidado com a forma como fala não só do suicídio, mas de tantas outras tragédias. Mas, se calar diante de uma realidade que pede ajuda, que precisa de ajuda, é um ato que não contribui. Até porque a função do jornalismo é justamente oferecer informação e prestar serviços.

Mas, se a imprensa tem papel fundamental, não se pode esquecer que cada um de nós pode e deve fazer a sua parte. E o CVV, com seus cerca de 2 mil voluntários espalhados pelo país, está pronto para conversar, de forma sigilosa e anônima. Sem julgamentos. Basta ligar para o telefone 141 ou acessar o site cvv.org.br, onde o apoio emocional gratuito é oferecido 24 horas por dia, nos sete dias da semana, via chat, Skype o email.  

Aline Imercio
Colaboradora do Blog do CVV

4 comentários:

  1. "Se cada mãe que perdeu seu filho dessa forma, se cada filho que viu seu pai ir embora por uma morte provocada soubesse da tendência de seu ente querido em se matar, certamente mais poderia ser feito, um apoio poderia ser prestado e uma vida preservada." Com todo o respeito à causa, há que se ponderar o custo/benefício dessa afirmação, que pode ter efeito devastador naqueles que perderam pessoas para o suicídio.

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    1. A idéia é tornar o suicídio um tema a ser conversado naturalmente, sem medo, vergonha e oferecer às pessoas informações que possam ajudar na identificação dos sintomas, na forma de agir com o outro, bem como conhecer o tipo de ajuda profissional que pode ser buscada. Em nenhum momento buscar culpados e tão somente preparar as pessoas para conviverem com a situação, através do conhecimento, falando abertamente no caso sem tabu e preconceitos.

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    2. Sei disso, Rejane. Mas independentemente de se buscar culpados, quem perde alguém para o suicídio se sente, ou pode se sentir, muito culpado. E a afirmaçâo, tal como posta, potencializa esse sentimento. Foi o que tentei sinalizar, sem invalidar o valor do texto.

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  2. "Se cada mãe que perdeu seu filho dessa forma, se cada filho que viu seu pai ir embora por uma morte provocada soubesse da tendência de seu ente querido em se matar, certamente mais poderia ser feito, um apoio poderia ser prestado e uma vida preservada." Com todo o respeito à causa, há que se ponderar o custo/benefício dessa afirmação, que pode ter efeito devastador naqueles que perderam pessoas para o suicídio.

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