Lançado em 2002, o livro escrito por Andrew Solomon é um relato pessoal, comovente, esclarecedor e bem escrito sobre depressão, estresse e a maneira como vivemos hoje em dia. Vencedor do 2001 National Book Award e finalista do The Pulitzer Prize Board 2002, recebeu muitas críticas positivas de veículos renomados por todo o mundo.
Ir ao fundo do poço é uma expressão leve para descrever a experiência de vida do autor. Ele foi ainda mais fundo para vencer uma das síndromes que mais aflige a humanidade nos dias de hoje: a depressão.
Fruto de sua dolorosa, dramática e vitoriosa trajetória durante doença, "O demônio do meio-dia" é um livro intensamente envolvente, sagaz, construtivo e humano. Recomendação de leitura para quem convive ou conviveu com alguém que sofre desta doença mais comum do que imaginamos.A obra não se restringe a um simples relato do autor sobre sua relação com a doença. Inspirado pelo que sentiu na própria pele, Solomon fez uma investigação ampla e minuciosa, o mais abrangente estudo sobre a depressão publicado nos últimos tempos.
O autor não mede esforços para dissecar a doença. Ele descreve a dor de outros, em diferentes culturas e sociedades, pessoas cujas vidas foram estilhaçadas pela depressão. Englobando questões amplas que cercam o assunto, Solomon revela as implicações históricas, sociais, biológicas, químicas e médicas da doença. Conduz-nos por pavilhões de hospitais psiquiátricos nos quais alguns de seus pesquisados estão aprisionados há décadas; por laboratórios onde novos modos de visualizar o cérebro estão sendo elaborados; e nos leva até os pobres do campo e da cidade, também afligidos pelo fardo do mal.
Talvez um dos aspectos mais fascinantes da obra de Solomon seja revelar o papel vital da vontade e do amor no processo de recuperação da doença. Para ele, examinar a depressão e as emoções que a rodeiam é verificar o que é possuir um eu, o que é, enfim, ser humano. O fato de o livro ser de autoria de um escritor com depressão parece dar mais credibilidade e sensibilidade, além de torná-lo mais interessante, graças às inúmeras referências literárias de manifestações sobre a doença em romances e poemas.
Além disso, durante a pesquisa, Andrew Solomon entrevistou várias pessoas com depressão e especialistas, além de citar vários estudos sobre o tema. O livro foi dedicado ao pai dele, por tê-lo ajudado durante suas crises depressivas que ficaram mais fortes após a morte da mãe. No primeiro capítulo da obra, ele aborda de forma geral a depressão, descrevendo como a doença está relacionada à solidão, à falta de significado da vida e das emoções.
Uma informação interessante destacada é a de que a depressão é a principal causa de incapacitação nos Estados Unidos e no exterior para pessoas acima de 5 anos de idade, além de mascarar outras doenças. “Na depressão, tudo que está acontecendo no presente é a antecipação da dor no futuro, e o presente enquanto presente não mais existe”.
Ele descreve a ansiedade e a depressão como demônios do meio-dia. “Tornar-se deprimido é como ficar cego, a escuridão no início gradual acaba englobando tudo; é como ficar surdo, ouvindo cada vez menos até que um silêncio terrível o envolve, até que você mesmo não pode fazer qualquer som para penetrar o silêncio. É como sentir sua roupa lentamente se transformando em madeira, uma rigidez nos cotovelos e joelhos progredindo para um terrível peso e uma isolante imobilidade que o atrofiará e, dentro de algum tempo, o destruirá”.
Solomon compartilha como se sentiu mal quando teve seus colapsos, situações que poucas pessoas imaginam que aconteçam a um depressivo. Ele conta que entre os sintomas estavam o de não conseguir comer, vômitos, choros e até dificuldades para falar. Ele explica que, quando se está depressivo, é como se os minutos se tornassem “anos terríveis, baseados em alguma noção artificial do tempo”, fazendo a pessoa pensar que aquilo nunca vai terminar e que a morte pode ser a única solução, embora nem sempre o indivíduo tenha energia e a coragem para ir até o fim. “Quando se está deprimido, o passado e o futuro são absorvidos inteiramente pelo momento presente, como no mundo de uma criança de 3 anos. Não se consegue lembrar de um tempo em que se sentia melhor; pelo menos não claramente; e certamente não se consegue imaginar um futuro em que se sinta melhor”.
Entre vários pontos abordados, o autor associa a depressão ao suicídio. Solomon comenta a diferença entre querer se matar, querer estar morto e querer morrer, comentando que, apesar do depressivo, muitas vezes, desejar por um fim no seu sofrimento, não são todos que têm a energia, força de vontade e impulsividade para tal. Ele explica que o suicídio não deveria ser tratado necessariamente como um sintoma da depressão.Outras discussões interessantes sobre o suicídio levantadas no livro são a eutanásia; como um suicídio pode influenciar outros, seja dentro do próprio círculo familiar e de amizades ou exposto na mídia; o fato de suicidas terem baixo índice de serotonina; e a análise sobre o suicídio de Freud, citada como a vontade de matar o outro, desferida contra si mesmo.
Para finalizar, deixa uma mensagem de esperança, compartilhando casos de pessoas que conseguiram controlar sua depressão ou que ainda lutam contra ela, entre altos e baixos, mas que não desistiram.
O oposto da depressão, esclarece o autor no último parágrafo de "O demônio da meia-noite", não é a felicidade, mas a vitalidade. Apesar de odiar as sensações destrutivas e os impulsos suicidas, ele afirma que são eles que o fazem “olhar a vida de modo mais profundo, a descobrir e agarrar razões para viver”.
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