Dizem os psicólogos que as pessoas passam a vida tentando encontrar a completude perdida no nascimento. A vida intrauterina estaria no inconsciente como a memória da perfeição, quando os seres estão protegidos, aconchegados e umbilicalmente presos às mães. Ao nascer, haveria uma ruptura abrupta e a sensação de perda da ligação com a mãe e com o mundo então conhecido. Nascer seria, portanto, traumático. E a partir de então surge o desejo de formar um novo vínculo umbilical, desta vez no sentido figurado.
Na infância, esse desejo de retomar a ligação perdida é direcionado à figura materna, o que explica que a necessidade de aconchego dos bebês só seja suprida totalmente com a mãe. Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, tem-se a fase de ansiar a liberdade, o que significa romper a dependência dos pais e direcionar a vontade de “fundir-se” aos parceiros amorosos. A origem destes desejos seria a mesma: recuperar o vínculo umbilical que se perde com o nascimento.
Algumas pessoas, com medo de se sentirem extremamente vulneráveis, optam, conscientemente ou não, por não criar vínculos emocionais com ninguém, para não terem que passar pela inevitável ruptura. Mantém-se, porém, a necessidade humana de aconchego, da criação de um universo conhecido, confortável e seguro, que costuma ser transferido para o emprego, a casa, a rotina.
Em busca de um colchão emocional macio e quentinho ao final do dia, costuma-se criar apego à pessoas, coisas ou situações que remetam à uma sensação de estabilidade. Sensação esta que é falsa, tendo em vista o destino de todas as coisas de se transformar, perecer ou morrer (vide texto Impermanências).
Não há prisão emocional maior que o apego, que impede que as pessoas sejam quem elas gostariam de ser. O apego as cristaliza em uma situação e obsta até mesmo que elas mudem de opinião, de desejos, de estilo de vida. Neste sentido, imagine alguém que trabalhou anos para construir a casa dos seus sonhos e, quando finalmente conseguiu, percebeu que não era mais a pessoa que sonhava com uma casa, mas sim com uma mudança de cidade. O apego ao que um dia se desejou e se conseguiu à duras penas criará a angústia e poderá dificultar que o indivíduo realize seus novos desejos e se reinvente. O mesmo acontece com quem conquistou o sonhado emprego, casou-se com quem outrora já foi o amor da vida ou fez amizades que foram importantes em um período, mas que não cabem mais nos dias atuais. Tentar mantê-los simplesmente impossibilita a liberdade de satisfazer o eu presente.
Engana-se, porém, quem pensa que apenas um passado feliz aprisiona. O professor Leandro Karnal conta, em uma de suas palestras, a história de uma colega presa durante a ditadura militar, que relatou que um dos maiores fatores de angústia entre os detentos era a mudança de torturador, pois conheciam o tempo e a intensidade dos métodos utilizados pelo antigo, enquanto que um novo agente poderia mostrar-se ainda mais cruel. E é por medo de sofrer ainda mais em uma situação desconhecida que homens e mulheres mantêm-se, diariamente, por anos a fio, em algo que lhes gera dor. A dor conhecida, portanto, parece melhor que aquela que ainda não se pode mensurar.
A sociedade costuma criticar quem muda de ideia, de planos ou de sonhos com alguma frequência. Talvez porque tenha o péssimo hábito de repreender quem tem coragem de fazer aquilo que tanto deseja, mas não o faz por comodismo ou insegurança. Aquele que rompe esta barreira ofende os que optam por permanecer inertes, porque lhes mostra que é possível e desconstrói todas as desculpas usadas para evitar a mudança.
O direito de buscar outras formas de vida está disponível para todos. É preciso absorver as palavras do filósofo Mário Sérgio Cortella, no documentário Eu Maior (disponível aqui): ser do mesmo modo sempre não é sinal de coerência, mas de tacanhice mental. As pessoas, contudo, parece que fixam para si uma idade imaginária, em que não seria mais tempo para o novo, especialmente se isto implicar em abandonar o velho.
Não se trata de desinteresse, fuga ou desvalorização das pessoas ou coisas que nos trazem conforto emocional, mas apenas de ser livre para ser quem se deseja ser, sem cordões umbilicais imaginários. Quem não se permite ser a pessoa que deseja ser, não se permite nada.
Na infância, esse desejo de retomar a ligação perdida é direcionado à figura materna, o que explica que a necessidade de aconchego dos bebês só seja suprida totalmente com a mãe. Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, tem-se a fase de ansiar a liberdade, o que significa romper a dependência dos pais e direcionar a vontade de “fundir-se” aos parceiros amorosos. A origem destes desejos seria a mesma: recuperar o vínculo umbilical que se perde com o nascimento.
Algumas pessoas, com medo de se sentirem extremamente vulneráveis, optam, conscientemente ou não, por não criar vínculos emocionais com ninguém, para não terem que passar pela inevitável ruptura. Mantém-se, porém, a necessidade humana de aconchego, da criação de um universo conhecido, confortável e seguro, que costuma ser transferido para o emprego, a casa, a rotina.
Em busca de um colchão emocional macio e quentinho ao final do dia, costuma-se criar apego à pessoas, coisas ou situações que remetam à uma sensação de estabilidade. Sensação esta que é falsa, tendo em vista o destino de todas as coisas de se transformar, perecer ou morrer (vide texto Impermanências).
Não há prisão emocional maior que o apego, que impede que as pessoas sejam quem elas gostariam de ser. O apego as cristaliza em uma situação e obsta até mesmo que elas mudem de opinião, de desejos, de estilo de vida. Neste sentido, imagine alguém que trabalhou anos para construir a casa dos seus sonhos e, quando finalmente conseguiu, percebeu que não era mais a pessoa que sonhava com uma casa, mas sim com uma mudança de cidade. O apego ao que um dia se desejou e se conseguiu à duras penas criará a angústia e poderá dificultar que o indivíduo realize seus novos desejos e se reinvente. O mesmo acontece com quem conquistou o sonhado emprego, casou-se com quem outrora já foi o amor da vida ou fez amizades que foram importantes em um período, mas que não cabem mais nos dias atuais. Tentar mantê-los simplesmente impossibilita a liberdade de satisfazer o eu presente.
Engana-se, porém, quem pensa que apenas um passado feliz aprisiona. O professor Leandro Karnal conta, em uma de suas palestras, a história de uma colega presa durante a ditadura militar, que relatou que um dos maiores fatores de angústia entre os detentos era a mudança de torturador, pois conheciam o tempo e a intensidade dos métodos utilizados pelo antigo, enquanto que um novo agente poderia mostrar-se ainda mais cruel. E é por medo de sofrer ainda mais em uma situação desconhecida que homens e mulheres mantêm-se, diariamente, por anos a fio, em algo que lhes gera dor. A dor conhecida, portanto, parece melhor que aquela que ainda não se pode mensurar.
A sociedade costuma criticar quem muda de ideia, de planos ou de sonhos com alguma frequência. Talvez porque tenha o péssimo hábito de repreender quem tem coragem de fazer aquilo que tanto deseja, mas não o faz por comodismo ou insegurança. Aquele que rompe esta barreira ofende os que optam por permanecer inertes, porque lhes mostra que é possível e desconstrói todas as desculpas usadas para evitar a mudança.
O direito de buscar outras formas de vida está disponível para todos. É preciso absorver as palavras do filósofo Mário Sérgio Cortella, no documentário Eu Maior (disponível aqui): ser do mesmo modo sempre não é sinal de coerência, mas de tacanhice mental. As pessoas, contudo, parece que fixam para si uma idade imaginária, em que não seria mais tempo para o novo, especialmente se isto implicar em abandonar o velho.
Não se trata de desinteresse, fuga ou desvalorização das pessoas ou coisas que nos trazem conforto emocional, mas apenas de ser livre para ser quem se deseja ser, sem cordões umbilicais imaginários. Quem não se permite ser a pessoa que deseja ser, não se permite nada.
Luiza
CVV Belém - PA