12 de janeiro de 2016





Conviver com quem tem depressão não é tarefa fácil. Se a pessoa for muito próxima, então, o sentimento de impotência dos que estão por perto é comum. Acompanhar a dor cotidiana, a falta de prazer nas pequenas coisas, as dificuldades com o sono, o desânimo, a autoestima comprometida e a dificuldade com as atividades antes corriqueiras causa estranheza e o questionamento permanente de como se pode ajudar.

Sem conseguir resposta, muitos recorrem à cobrança, quase sempre travestida de sentimentos de incentivo: “vamos lá, você precisa reagir!”; “é preciso força de vontade!”. O problema é que, apesar das melhores intenções presentes, acaba-se alimentando a culpa de quem já está desanimado e sem forças para lutar.

Renomado pesquisador da área de saúde mental, o psiquiatra Neury Botega explica, na obra “Crise Suicida”, que três pontos são fundamentais quando o assunto é o que não fazer: infantilizar a pessoa, tratando-a como criança; cobrar melhoras; e, por fim, desistir de ajudar.

É isso mesmo: desistir de ajudar costuma ser comum. A delicadeza do problema de saúde faz com que se pense que o melhor é deixar para lá, quieto, como se tudo se resolvesse em um passe de mágica com o tempo. Mas é justamente aí que mora o perigo. Entre o sentimento de não fazer nada e a dúvida sobre o que fazer, Botega ensina que algumas questões são fundamentais.

 
A primeira delas é compreensão e apoio: estar ao lado, doar tempo de qualidade, tomar um suco compartilhando o silêncio ou simplesmente ver um programa de TV juntos. Outro aspecto importante é demonstrar otimismo. Mas de que forma? Incentivar com delicadeza pequenas ações, tais como um banho, um lanche leve. O final da tarde costuma ser um horário propício, já que o desânimo costuma ser pior de manhã. O terceiro e último ponto destacado pelo psiquiatra é mudar a lente, ajustar o foco. Ou seja, frente aos sentimentos de falta de interesse, incapacidade, desesperança e autoestima afetada, ponderar que as conclusões são influenciadas pela depressão, mostrando, de forma delicada, qualidades e realizações de outras épocas. Nada de discutir ou de convencer por insistência. A proposta é usar a calma e ser conciso. Tudo isso sempre marcado pela escuta com muita atenção e respeito.


A doença mina a vontade e qualquer iniciativa de pessoas que antes eram vistas como batalhadoras e cheias de vida. É a tal perda da vitalidade. Neury Botega observa, ainda, que entre os cuidados dos familiares estão questões práticas, como lembrar o retorno ao profissional de saúde e da tomada de medicação. No caso de convivência com quem tem ideação suicida, aconselha dividir as preocupações com o médico, não deixar o doente sozinho e mantê-lo afastado de armas de fogo, veneno e grandes quantidades de medicamentos, por exemplo.

Leila
CVV Brasília - DF